ATA DA TRIGÉSIMA SEXTA SESSÃO SOLENE DA SEGUNDA
SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 13.11.1990.
Aos treze dias do mês de novembro do ano de mil
novecentos e noventa reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a
Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Trigésima Sexta Sessão Solene da
Segunda Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura, dedicada a
homenagear a Brigada Militar pelo transcurso de seus cento e cinqüenta e três
anos de existência. Às dezessete horas e dez minutos, constatada a existência
de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente
Sessão e solicitou aos Líderes de Bancada que conduzissem ao Plenário as
autoridades e personalidades convidadas. Compuseram a Mesa: Ver. Valdir Fraga,
Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Coronel PM Carlos Walter
Stocker, Comandante Geral da Brigada Militar; Tenente Coronel Bento Matusalém
de Vasconcelos, Chefe do Centro de Suprimento e Manutenção de Material Bélico
da Brigada Militar; Tenente Coronel Nézio da Silva Fagundes, Comandante do
Batalhão de Polícia Rodoviária; Tenente Coronel Antônio Cezar da Cunha Chaves,
Comandante do Batalhão de Polícia de Choque; Tenente Coronel Carlos Artur
Sarmanho, Chefe do Serviço de Supervisão de Vigilância e Guardas; Tenente
Coronel Luis Carlos Agueiredo, Diretor do Hospital da Brigada Militar; Sargento
Jaques Barcelos Ortiz, Presidente da Associação dos Subtenentes e Sargentos da
Brigada Militar; e Ver. Vicente Dutra, autor da proposição e, na ocasião, Secretário
“ad hoc”. Após, o Senhor Presidente fez pronunciamento alusivo à solenidade,
destacando a relevância dos serviços prestados por essa organização à
comunidade sul-rio-grandense e, em continuidade, concedeu a palavra aos
Vereadores que falariam em nome da Casa. o Ver. Vicente Dutra, como autor da
proposição e em nome das Bancadas do PDS, PMDB, PTB e PSB, falou de seu
orgulho, como filho de brigadiano, de ter encaminhado a proposição referente à
presente solenidade. Discorreu sobre a história da Brigada Militar, dizendo ser
ela “a própria história do Rio Grande do Sul”, marcada pelo “heroísmo e civismo
inigualável” de seus integrantes. Congratulou-se com essa corporação pelos
serviços prestados a nossa comunidade. Lembrou o nome do Soldado PM Valdeci
Lopes de Abreu, morto em conflito com colonos-sem-terra, ocorrido em agosto
deste ano. O Ver. Wilson Santos, em nome das Bancadas do PL e do PDT, saudando
a Brigada Militar pela passagem de seus cento e cinqüenta e três anos de
existência, destacou ser ela o verdadeiro “apanágio da segurança pública deste
Estado”. Ressaltou o “alto espírito cívico” dessa organização e defendeu que a
segurança pública passe a ser prioridade dentro dos planos dos governos. E o
Ver. Artur Zanella, em nome da Bancada do PFL, discorrendo sobre o aspecto já
tradicional da realização desta Sessão Solene, saudou os componentes da Brigada
Militar. Salientou a necessidade de melhor aparelhamento dessa organização, a
fim de que sua tarefa de segurança pública seja bem sucedida. Lembrou a taxa de
socorros públicos, incluída na Lei Orgânica do Município e, referindo-se à
morte do Soldado PM Valdeci Lopes de Abreu, divulgou Projeto de Lei, de sua
autoria, que pretende seja a filha do referido Soldado beneficiada com pensão
alimentícia, diante dos fatos que envolveram a morte do citado. Em
continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Coronel PM Carlos
Walter Stocker, Comandante Geral da Brigada Militar que, em nome dessa
organização, reafirmou a dedicação ao trabalho em prol da segurança pública e
agradeceu a homenagem prestada. Após, o Senhor Presidente, referindo-se ao
pronunciamento do Ver. Artur Zanella, asseverou que, como Deputado Estadual,
deverá estar atento, também, a todas as questões que envolvem a segurança
pública. Ainda, o Senhor Presidente anunciou a execução de uma peça musical
pela Banda da Brigada Militar. Às dezoito horas e quatro minutos, nada mais
havendo a tratar, o Senhor Presidente levantou os trabalhos da presente Sessão,
agradecendo a presença de todos e convocando os Senhores Vereadores para a
Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos
pelo Ver. Valdir Fraga e secretariados pelo Ver. Vicente Dutra, este como
Secretário “ad hoc”. Do que eu, Vicente Dutra, Secretário “ad hoc”, determinei
fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos
Senhores Presidente e 1º Secretário.
O SR. PRESIDENTE: A nossa gaúcha, tradicional e valorosa Brigada Militar completa, no dia
19 do corrente, 153 anos de existência. Nós não poderíamos deixar de assinalar,
portanto, este significativo evento, sem o registro especial, através da
mensagem de nossos oradores. De imediato, passamos a palavra ao Ver. Vicente
Dutra, autor da proposição, que falará em nome das Bancadas do PDS, PMDB, PTB e
PSDB.
O SR. VICENTE DUTRA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, demais componentes da Mesa, já se
tornou uma rotina anual desta Casa a realização de Sessão Solene destinada a
homenagear a Brigada Militar nos transcursos de seus aniversários, razão que me
traz, hoje, de volta a esta tribuna, na condição de envaidecido idealizador da
iniciativa, amparado que tenho sido, já pela segunda oportunidade consecutiva
na atual Legislatura, pelo voto de apoio e pela aprovação unânime de meus
Pares. Nem poderia ser diferente.
Os 153 anos de glórias da Brigada
Militar têm-se mostrado repletos de incomensuráveis serviços prestados à
comunidade rio-grandense, e, em especial, à nossa cidade de Porto Alegre, cuja
população, reconhecida, está aqui representada.
De berço sabidamente construído
em meio à luta heróica e histórica da Revolução Farroupilha, a Brigada Militar
não tem feito outra coisa senão concorrer para o aperfeiçoamento das
instituições, as quais tem sabido defender, ao longo deste século e meio, indiferentemente
às interpretações estranhas que podem merecer as autoridades constituídas, a
legalidade das representações e a ordem jurídica legitimamente instalada pela
vontade soberana do nobre povo gaúcho, cujas tradições democráticas são
reconhecidas no País e no Continente, e que embora as eventuais ameaças que
tenham sofrido, são indiscutivelmente vencedoras graças particularmente a essa
força que não soube soçobrar.
A história da Brigada Militar
talvez pudesse ser resumida assim, com o emprego de expressões concisas, num
pronunciamento curto, que dissesse o quanto ela tem sabido resistir às ofensas
que se fazem à ordem jurídica e o quanto ela tem sabido pôr-se ao lado da
civilidade, da lei e dos direitos humanos. Mas a esta história - que é a própria
história do Rio Grande - vê somados a si os episódios mais recentes que
envolveram a Corporação no policiamento de nossas cidades, onde a marginalidade
e o furto evoluíram para o crime organizado, o narcotráfico e a corrupção,
indesejáveis elementos de uma sociedade que têm encontrado nela, na Brigada
Militar, nosso maior bastião.
Criada nos tempos de luta e
forjada nos campos de glórias que conquistou, a Brigada Militar encerra uma
história de civismo inigualável, descrita, por nós, sempre com elevada emoção.
Sua forma legal de organização policial militar data de 18 de novembro de 1837,
quando o Presidente da Província, General Antônio Elseário de Miranda e Brito,
assinou a Lei nº 7, criando o Corpo Policial da Província de São Pedro do Rio
Grande do Sul, destinado a manter a ordem interna, abalada pelo conflito que
envolvia, então, os guerreiros farroupilhas e as tropas imperiais. Passou por
diversas transformações e foi denominada de Brigada Militar do Estado em 15 de
outubro de 1892.
Intimamente ligada aos movimentos
revolucionários que abalaram o Rio Grande e o Brasil, a Brigada Militar
participou de combates à guerrilha em 1893, em 1923, em 1924, em São Paulo, e,
como marco histórico de sua relevante função social, foi pioneira do mais
empolgante movimento de nacionalidade que conhecemos: a Revolução de 1930. O
desenvolvimento industrial, a urbanização e o explosivo aumento populacional
das grandes cidades trouxeram, então, a Brigada para o policiamento, no qual
consolidou sua condição de nossa maior credora.
Porque foi aqui, no dia-a-dia com
a população, no socorro aos desamparados, na perseguição aos criminosos, na
ordenação e racionalização de nosso trânsito e na ajuda aos necessitados que a
Brigada Militar tornou-se indispensável não mais apenas à defesa da ordem ou ao
sentimento de brasilidade, mas a cada um dos cidadãos que percorrem nossas
ruas, e que vêem, no homem fardado, ou na patrulha que passa, uma âncora de
respeito e auxílio de que ninguém mais - no mais remoto rincão deste Estado -
pode dizer que prescinde.
Esta evolução dos serviços que
presta não nos permitirá nunca esquecer a fileira de heróis de sua história,
como os memoráveis Coronéis Fabrício Batista de Oliveira Pilar, José Bento
Porto, Cipriano da Costa Ferreira, Afonso Emílio Massot, Emílio Lúcio Esteves,
João de Deus Canabarro Cunha e Aparício Borges, ou ainda o Sargento Sauri
Fortes Garcia e o Soldado Adão Oliveira Silva, mortos no hoje Município de
Caibaté, onde, em nome da legalidade, enfrentaram uma multidão de bandidos. Não
esqueceremos, tampouco, o Soldado Valdeci de Abreu Lopes, barbaramente
assassinado por colonos no Centro de Porto Alegre, quando no cumprimento do
dever, em agosto último.
Aliás, sobre o Valdeci, por
proposta da Bancada do PDS, numa feliz inspiração do Ver. João Dib, a Bancada
pediu o concurso de um artista, Machado Russo, e foi projetado esse monumento
que hoje finalmente foi aprovado por gestões de nossa Bancada junto ao Sr.
Prefeito Municipal, e ele será instalado na II Perimetral, na Silva Só, em
frente ao quartel do Corpo de Bombeiros e do Ginásio da Brigada Militar. É um
monumento que evoca a ausência do Soldado e também faz evocação ao Batalhão,
quer dizer, é um soldado que está faltando na Cidade, e faltando junto aos seus
companheiros. Acho que foi muito inspirado o artista quando bolou esse
monumento que será feito em chapa de concreto, e ali será exaltado
principalmente a figura deste herói, que é o Valdeci de Abreu Lopes. (Palmas.)
Muito obrigado.
Os heróis da Brigada Militar, no
entanto, não mais têm seus nomes registrados em galerias históricas. Eles
cresceram conjuntamente com as nossas cidades, nossos problemas e nossos
pedidos de socorro. Eles são hoje o bombeiro anônimo, são os homens do Centro
de Operações, são os soldados dos batalhões, sempre atentos e, muitas vezes, o
símbolo de nosso último escudo em defesa da vida e do patrimônio.
Lembrando, ainda, que a Bancada
do PFL e o PL também estão integrados neste monumento, como é o caso de outros
Vereadores, como o Ver. Ervino Besson, também entusiasta do movimento, embora
não pertencendo a estas Bancadas.
É por estas razões que esta
homenagem talvez não devesse ter tão simplesmente a autoria deste Vereador, ou
desta Casa. E é por estas razões que mais justiça se faria se seus autores
fossem cidadãos anônimos e pudessem estar aqui, não apenas representados, para
dar um grande abraço na nossa Brigada Militar. Muito obrigado e a nossa
saudação.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Ver. Wilson Santos, que fala pela sua Bancada,
o PL e pela Bancada do PDT.
O SR. WILSON SANTOS: Exmo Sr. Ver. Valdir
Fraga, Presidente desta Casa; Cel. Carlos Walter Stocker, Comandante-Geral da
Brigada Militar; demais oficiais componentes da Mesa; o nosso Sargento Jaques,
Presidente da Associação dos Subtenentes e Sargentos da Brigada Militar; demais
presentes; Vereadores; enfim, todos que de uma forma especial estão
abrilhantando esta solenidade.
Eu tenho a honra de falar não
somente em nome do Partido Liberal. Eu tive a responsabilidade e a honra de
receber da Bancada do PDT, Partido Democrático Trabalhista, a missão de
externar, também, a sua homenagem, na passagem dos 153 anos da Brigada Militar.
Eu tenho consciência de que a verdade e a palavra “amor”, repetidas mil vezes,
elas têm o sabor de novidade. Nós temos visto no decorrer dos anos que esta
Casa repete a homenagem à Brigada Militar, que conceitos e palavras são
repetidos, mas sempre com esse sabor de eterna novidade, pelo elevado valor que
tem a corporação. Quantas vezes eu já ouvi dizer que a Brigada é o apanágio de
segurança pública? A palavra “apanágio”, dita e repetida, ela tem o sabor de
novidade. Até, se nós formos nos deter no estrito sentido literal da palavra,
que é uma propriedade, uma característica, é um atributo, é um símbolo, é um
caráter essencial, então esse caráter essencial, esse símbolo de segurança
pública, é evidentemente a Brigada Militar. Símbolo de civismo - um civismo tão
necessário, está tão desgastado e tão em desuso, porque a sociedade se debate
numa das maiores crises que é a crise da falta de vergonha na cara. Quando o
clamor popular brada contra a impunidade, a corrupção, a falta de vergonha, nós
vamos ver que o exercício de algumas regras de conduta estão deixando de
acontecer. Uma é o exercício do civismo, o civismo com sentido de devoção
pátria, e esse exemplo de civismo existe incrustado na Brigada Militar
constantemente. Para um exemplo poderíamos invocar e avocar a saudosa memória
do Cel. Afonso Emílio Massot, patrono da Brigada Militar. O símbolo de civismo
e liberdade existe na Brigada Militar, tanto que o patrono cívico que une a
Brigada Militar com a Polícia Civil é Joaquim José da Silva Xavier, o
proto-mártir da independência. E quantas vezes já se repetiu que, embora tenham
praticado toda sorte de atrocidades contra Tiradentes, tendo chegado ao ponto
de esquartejá-lo, pendurar sua cabeça numa estaca, distribuir as partes de seu
corpo do caminho de Rio a Minas Gerais, tendo seu terreno sido salgado, e tendo
tido a extrema selvageria de declarar infames seus descendentes, nunca apagou
desse patrono cívico da Brigada Militar, Tiradentes, os seus ideais de
liberdade, sendo dito de boca cheia, sempre, que ele foi o proto-mártir da
independência, símbolo qualitativo em segurança ostensiva, fardada, a Brigada
tem, e por esse símbolo qualitativo é que ela tem o respeito da população, o
respeito do povo deste Rio Grande, da comunidade, da coletividade
porto-alegrense, a qual esta Casa, pelos seus trinta e três Vereadores é
representada. E ela está na qualidade do serviço de combate ao fogo, de busca e
salvamento, em todas as particularidades do seu serviço, quer no patrulhamento
a cavalo, a pé, motorizado, porque realmente a Brigada, na aplicação prática,
ela granjeia esse conceito de alto nível, e com uma estrutura calcada,
estribada nos seus regulamentos, na sua hierarquia e na sua disciplina, que são
fatores fundamentais para o exercício de tão elevada missão. A BM está sensível
ao clamor público e eu quero parabenizar o Comandante e a corporação, porque eu,
todas as segundas-feiras, pela parte da manhã, dou atendimento público a um
bairro. É um bairro onde tive uma votação mais expressiva e resolvi dar este
atendimento mais próximo a ele. E quem está próximo, ouvindo o povo uma vez por
semana, sabe o que este povo quer. E nós entendemos que o policiamento
extensivo, o preventivo, o fardado, na busca da modernidade, ele tem que estar
com o pavilhão auricular sensível a essas coisas que vêm do povo. E a gente
sente que o povo quer prioridade muito maior na defesa da sua liberdade, do seu
trabalho, da sua propriedade, da sua vida, do que propriamente uma concentração
de esforços no talão de notificação de trânsito. E a gente viu anunciado este
novo enfoque, não de abandonar evidentemente as tarefas inerentes às infrações
de trânsito, mas realmente se voltar, com muito mais força - e esta qualidade
já se mostra inclusive em Porto Alegre, e isto é dito pela população, que já vê
uma atenção maior a estas liberdades, ao seu trabalho, à sua propriedade e à
defesa da sua vida, o que prova que a Brigada avança e se moderniza. E um
detalhe, em homenagem, agora, aos 153 anos da Brigada: eu quero tecer duras e
cáusticas críticas ao Governo Federal e ao Governo Estadual. Eu assistia a uma
entrevista do General Carlos Tinoco, Ministro do Exercito, na qual a Rede
Manchete lhe perguntava se, no estágio que atingiu o banditismo urbano que
transcendeu às raias da normalidade, se não era o caso de se colocar o Exército
na rua. O General disse que em absoluto, esta missão é uma missão reservada às
Polícias Civil e Militar. Mas aqui vem um detalhe: o repórter perguntou ao
General: “E os recursos, então, para aparelhar e melhorar as polícias civis e
militares?”. E ele disse com a maior tranqüilidade: “Os recursos existem. O que
falta é vontade política de elencar segurança pública como prioridade.” E aqui
é que eu digo - em homenagem a estes 153 anos - tem que acordar a autoridade
governamental desse sono profundo em que está, desta insensibilidade, e ouvir o
povo, porque a vontade política tem que existir em consonância com o povo,
porque na lição de Abraham Lincoln, diz: “Governo democrático é governo do
povo, pelo povo, para o povo”.
Hoje eu sou capaz de dizer, se
fizéssemos uma consulta popular à Nação, a população brasileira iria dizer:
“Queremos, em primeiro lugar, segurança pública.” E nós não teríamos hoje
simplesmente lobbies de gabinete em cima do Presidente da República para
gastar fortunas de milhões de dólares num projeto de submarino para a Marinha.
Ou projetos mirabolantes para a Aeronáutica, e tantos outros projetos
desviados, aí, que vão toneladas e toneladas de ouro ou quantidades enormes de
dólares e cruzeiros que não são canalizados para aquilo que o povo quer.
Então, Sr. Comandante, Sr.
Presidente, eu entendo que feitas as devidas homenagens - eu acho que esta
seria a maior homenagem para qualificar a Brigada Militar com uma vontade
política -, a canalização de recursos para aparelhar de meios materiais e
aumentar os recursos humanos e colocar uma política de vez, uma política
salarial muito mais digna. Evidentemente que sei que os esforços do Cel. Carlos
Walter, junto ao Governo, esforço da oficialidade, da Brigada como um todo.
Houve uma melhora na política salarial, mas muito aquém da dignidade e do
elevado patamar do serviço que presta a corporação. Por isso eu entendo, Sr.
Presidente, de fazer estas colocações, porque sei que posso falar neste tom em
nome do Partido Liberal e em nome da maior Bancada desta Casa, que é a Bancada
do PDT, que me honrou com esta responsabilidade de falar em seu nome. Sou
grato.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Ver. Artur Zanella, que fala pela sua Bancada,
o PFL.
O SR. ARTUR ZANELLA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Srs. Oficiais, Soldados da BM, meus
senhores, minhas senhoras. O Ver. Vicente Dutra colocou bem quando disse que
esta é uma Sessão tradicional desta Casa. E, por ser tradicional, queria também
como sempre o faço, colocar aqui a admiração que sempre tenho, tive e terei com
a Brigada Militar. Num período que trabalhei no Governo Estadual -
principalmente com o Governador Euclides Triches e Jair Soares - eu sempre
dizia que o Governador, no final de semana, é o Governador e mais o oficial de
dia da Casa Militar, porque a qualquer momento desse final de semana, esteja
aonde a pessoa estiver - e eu fui testemunha disso, quando lá de Alegrete se
necessitou de um acompanhamento num final de semana - foi só telefonar para a
Casa Militar, e sempre está lá vigilante alguém acompanhando os problemas do
Estado. Eu colocaria algumas questões, algumas acho até pitorescas, como a do
meu avô que sempre dizia que era Major da Brigada Militar. E hoje estou a
estudar a biografia da minha família, minha árvore genealógica e vi, como se
dizia no interior, ele estava se “gabando”. Na verdade ele era provisório,
Major provisório que se agregava à Brigada Militar principalmente nas épocas
revolucionárias. Ele era, como se dizia antigamente, era gente do Cel. Bráulio
Oliveira, que era o Comandante provisório da área de Santo Ângelo, onde meu
pai, também provisório, se apresentava como Capitão da Brigada. E não era, era
Capitão provisório.
Quem é Coronel da Brigada e até
hoje admiro, é meu tio, Alcindo Marques Viste, que aprendi a admirar e admiro
até hoje, porque até hoje - está aposentado há quinze, vinte anos, inativo -
ele ainda tem os princípios fixados por esta educação que ele teve nessa área.
A Brigada Militar historicamente
ela se altera, ela evolui, ela passa daquela área guerreira antiga para
segurança, para os batalhões, para um trabalho comunitário, como temos na
restinga, aquele trabalho construído com o auxílio da população, mas mais
construído pela própria Brigada, pelos seus soldados, pelos seus oficiais. Já
agora engajando-se num trabalho ecológico, que tem ainda essa responsabilidade
da segurança de todo o Estado, principalmente aqui na região metropolitana, em
Porto Alegre, que nós falamos. Eu analiso estas questões, está aqui o nosso
Presidente Valdir Fraga, que à mercê do seu trabalho, foi escolhido como um dos
representantes de Porto Alegre no Legislativo Estadual como Deputado.
Eu peço, Ver. Valdir Fraga,
quando estiver como Deputado, acompanhe estes problemas que aparecem sempre em
épocas de eleições, como extinção da Casa Militar, extinção da Justiça Militar,
e procure atuar em projetos que visem dar condições a esta tropa. E um dos
problemas que eu via, no tempo em que fui Diretor-Geral do Departamento
Municipal de Habitação, o soldado, morando naquelas piores vilas de Porto
Alegre, junto com o marginal que ele tinha que combater no outro dia, no Centro
da Cidade. A implantação de vilas militares, melhores condições de habitação,
melhores condições de soldo, porque sei que agora as pessoas se deram conta que
um orçamento de segurança não é um gasto, é um investimento, porque é o que a
população quer - como disse o Ver. Wilson Santos, que é oriundo desta arma -
basicamente o que ele quer é segurança.
Eu via também - e quero dizer com
toda a tranqüilidade - que nesta cidade de Porto Alegre, que na verdade é uma
das Cidades mais pobres do Rio Grande do Sul, é a Cidade que tem que atender
aos problemas de êxodo rural, que tem que atender a uns efeitos de urbanização
acelerada, sem poder atacar as suas causas, Porto Alegre procura colaborar com
a Brigada Militar, com a instituição, aprovada por esta Casa a taxa de socorros
públicos. E eu lembro na época da aprovação, foram poucos os oradores, muito
poucos. E eu dizia que se discutia aqui se era constitucional ou não esta taxa.
Mas eu dizia ainda que esperava que o patriotismo dos porto-alegrenses fizesse
com que nenhuma empresa entrasse na Justiça contra esta taxa que nós
consideramos justa. Parece que isto não ocorreu. Mas nós, aqui da Câmara, que
aprovamos este Projeto, estaremos na Justiça defendendo estes recursos para,
principalmente, o nosso corpo de Bombeiros.
Finalmente dois aspectos finais.
Um aspecto político; quero cumprimentar a Brigada Militar pela serenidade que
teve há poucos dias atrás, quando no Presídio Central se pretendia entregar um
prêmio pela paz àquelas pessoas que são acusadas pela morte do Cabo Valdeci de
Abreu Lopes. Eu nunca condenarei alguém antes que ele seja julgado pela
Justiça, mas não consigo imaginar demonstração de tanta insensibilidade de
pedir-se a um guarda da Brigada Militar que se permita entregar no Presídio
Central um prêmio de paz àquelas pessoas que são acusadas da morte de um seu
colega. Eu quero cumprimentar pelo bom-senso, pela serenidade com que se
pronunciaram os soldados, os oficiais da Brigada Militar que estavam naquele
momento. Eu pessoalmente creio que naquele momento teria tomado uma atitude
mais drástica e até violenta contra aquele fato que foi de uma provocação a
toda prova. Valdeci de Abreu Lopes, que morreu policiando esta Cidade; Ele que
morreu sem ter uma casa de sua propriedade; ele que deixou uma filha, uma
esposa.
Em contatos que tive com o 9º
BPM, falei com a sua esposa e estou encaminhando aos meus colegas, meus Pares,
um Projeto de Lei dando um pensão vitalícia, dentro das normas da Prefeitura,
isto até um determinado prazo, isto é, faculdade não vitalícia no caso, para a
sua filha que ainda não tem um ano. Acho que o mínimo que esta Cidade tem que
fazer é proteger àqueles que lutaram em sua proteção. Sei perfeitamente que se
dirá aqui nesta Casa que este Projeto terá um vício de origem porque aumenta a
despesa. Eu direi que é uma obrigação desta Casa e da Prefeitura Municipal dar
amparo àqueles que necessitam. Eu encaminhei ao meu Partido, e provavelmente
chegará ao meu candidato, o meu protesto por um programa político da televisão
sob a responsabilidade do meu Partido, junto com outro Partido, e do meu
candidato, em que um popular dizia que não ia votar em seu oponente porque ele
tinha agido mal, tempos atrás, colocando brigadianos na direção dos ônibus de
Porto Alegre. Quero dizer que apesar de ser um programa político do meu
Partido, eu não concordo absolutamente com aquilo que foi dito. Os brigadianos
não foram lá para oprimir ninguém, e sim para tentar dar transporte à população
de Porto Alegre sem envolver-se nos problemas trabalhistas entre patrões e
empregados. Coisa pequena, mas é das coisas pequenas que trazem o desprestígio
de uma entidade, e eu não gostaria que aquilo ficasse sem o meu protesto, como
fiz no dia de hoje.
Finalmente, Sr. Comandante, Srs.
Oficiais, Srs. Soldados, eu queria dizer que esta Casa, Câmara Municipal de
Porto Alegre, representa a comunidade desta Cidade, e eu quero que os senhores
saibam, mais uma vez, que aqui os senhores têm todo o apreço, todo o apoio, todo
o nosso propósito de lutar juntos para que este nosso País, o nosso Estado e o
nosso Município tenham, cada vez mais, mais tranqüilidade e segurança. Muito
obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao Cel. PM Carlos Walter Stocker, Comandante-Geral
do Brigada Militar.
O SR. CARLOS WALTER
STOCKER: Exmo Sr. Valdir Fraga, Presidente da Câmara de Vereadores; Srs. Vereadores
Vicente Dutra, Wilson Santos, Artur Zanella, João Dib, Ervino Besson e Omar
Ferri, representantes do povo nesta Casa; meus caros camaradas da Brigada
Militar: Coronéis, Diretores, Tenentes-Coronéis, Comandantes de Unidades, os
companheiros Soldados, Cabos, Sargentos, Polícia Feminina; senhoras e senhores.
No momento em que a Brigada
Militar recebe uma homenagem da Casa do Povo pelos 153 anos de existência,
cabe-nos, em nome de toda a Brigada Militar, agradecer os elogios aqui ditos à
nossa organização e à nossa corporação. No entanto, não só me cabe fazê-lo e
sim, aqui, diante dos que representam o povo de Porto Alegre, reafirmar a nossa
convicção de trabalho e dedicação prestados à segurança pública.
Somos uma organização que através
dos tempos tem enfrentado modificações das mais diversas, até porque as
evoluções da época assim o exigem. Evoluímos a todo instante, dado o novo
regramento jurídico, uma nova Constituição - em breve uma reforma desta nova
Constituição - e devemos nos adaptar a esta Constituição, continuarmos, no
entanto, com o que temos de mais sagrado, a nossa disciplina e a nossa hierarquia.
Não por ser um Comandante que fiz determinadas aberturas, há de se prescindir
da hierarquia, porque ela é um pilar da nossa organização, por ela mantemos os
nossos homens unidos. Mantemos o nosso soldado, principalmente ele, no seu
dia-a-dia prestando a segurança nos trezentos e trinta e três Municípios do
nosso Estado, diuturnamente, ajudando a população, servindo à população. Duras
críticas recebemos, é bem verdade, mas não esmorecemos diante dessas críticas.
As críticas muitas vezes servem de alento para trabalharmos melhor em benefício
desta comunidade.
Por isto a Brigada Militar
recebe, nesta Casa do Povo, as homenagens que lhe são feitas. E dizer que nós
da Brigada Militar, a nossa instituição, com sua missão constitucional de
prestar a segurança pública, ela tem procurado, de todas as maneiras, fazê-lo
através da sua competência e da sua dedicação.
Tenho procurado, desde o momento
em que assumi a Brigada Militar, valorizar o homem, fazendo com que o nosso
soldado, principalmente ele que é o homem da nossa atividade fim, receba um
tratamento mais humano e condigno. E ele recebendo estes momentos através da
população, temos certeza de que ele retribuirá a esta população, também com um
melhor trabalho, mais educado, mais humano. Jamais permitimos a violência, não
compactuamos com ela. No entanto, é bem verdade, em determinados momentos, somo
obrigados ao uso da força. Mas este uso da força é feito exatamente para que a
Instituição permaneça respeitada.
Por isto, meus senhores, no
momento em que nós tomamos conhecimento que é aprovado um Projeto para erguer
um monumento a um camarada nosso, morto no cumprimento do dever, é uma grande
honra para nós, é uma grande glória termos um monumento erguido a um soldado,
que representa, neste momento, o trabalho e a dedicação que todos eles têm para
com a sociedade gaúcha.
Queremos dizer também que a
Brigada Militar, como instituição, ela trabalha em cima dos efeitos da
criminalidade, ela não pode trabalhar em cima das causas. Estas não são
responsabilidades da Brigada, são responsabilidades de outros organismos e
outras instituições. Quando a miséria, a educação, a saúde, tiverem todos os
seus problemas sanados, nós temos absoluta certeza de que a segurança pública
também estará sanada. Por isto, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, em nome da
Brigada Militar, em nome dos meus soldados, eu agradeço esta homenagem. Muito
obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: O Ver. Zanella me chamou ao discurso. Na verdade, eu ainda não consegui
me adaptar à idéia, até porque não assumi ainda na Assembléia Legislativa, mas
eu tenho em mente que, tanto o Vereador, como o Deputado Estadual são
elaboradores de leis, fiscalizam os governos. E como aqui na Casa nós nos
identificamos com os funcionários que trabalham e nos identificamos com quem
também não trabalha, só que nós identificamos bem quem não trabalha, e são
muito poucos. Eu tenho em mente que tem que haver uma identificação também com
o Governo Municipal e com os seus funcionários. Dar todas as condições, cumprir
as leis, e na área estadual tem que ser a mesma coisa, não pode ser diferente.
E a Brigada Militar, tanto a Polícia Civil como a Militar, como os professores,
na área de saúde, como os funcionários públicos, também, têm que ser bem pagos,
em dia, para que os governantes possam exigir. Dizendo isto estou dizendo que
estarei na Assembléia Legislativa buscando dar condições e até junto com a
Brigada Militar buscar mais concursos ou mais contratações, enfim, o que
necessitar tanto a Brigada Militar como também na área civil. A mesma coisa vai
acontecer na área da saúde. Não é em troca de nada, é um dever, é um
compromisso com o Estado. Já estamos estudando alguns projetos.
Por isso, Comandante, como na
Brigada Militar existe uma disciplina exemplar, não quer dizer que não exista
na Polícia Civil. Não tem tanta disciplina como tem na Brigada Militar, e aqui
nós temos o nosso grupo de Seguranças que são da Policia Civil, exemplares na
Casa, e quando lá estiveram na Polícia Civil, eu coloco com muita segurança,
aos senhores que estão aqui presentes, foram extremamente disciplinados. Quanto
ao Governo, as eleições são dia 25. Depende do resultado e eu não posso falar
em nome do meu Partido, porque não vencemos as eleições. Eu sou Presidente da
Casa e eu aqui falo em nome, neste momento, agora, dos companheiros Vereadores,
os trinta e três Vereadores. O meu Partido, agora, neste momento, aqui na Mesa,
se chama CMPA. Eu gostaria de cumprimentá-los pelos 153 anos. Continuem nesta
disciplina que cada vez honra mais o nosso Estado. Eu não sei se existe em
outros Estados uma Brigada Militar como a nossa; Firme, mesmo com as suas
dificuldades, defendendo a nossa Cidade, o nosso Estado.
Encerramos a presente Sessão.
Gostaria que todos permanecessem no Plenário, ouvindo a apresentação da Banda
da Brigada Militar, que se encontra no saguão da Presidência. Um abraço,
Comandante, aos demais PMs, da Polícia Feminina também. Vocês são o orgulho do
nosso Estado, apesar das dificuldades que vocês estão sofrendo em termos de
salário. Um abraço a todos. (Palmas.) Sou grato.
Estão encerrados os trabalhos.
(Levanta-se a Sessão às 18h04min.)
* * * * *